segunda-feira, 24 de março de 2008

45 e 46


Na quinta-feira passada, fui passar a Páscoa na casa de meus avós na aprazível cidade de Areias-SP. Muitos duvidam da existência dessa localidade, mas aqueles que já passaram, ao menos uma única vez, com atenção por Queluz pela Via Dutra, conseguiram ler uma placa indicando que Areias está a apenas 13km dali.
Pois bem, na terça-feira passada, fui à rodoviária para comprar passagens de ônibus para mim e meu irmão viajarmos. Mesmo com dois dias de antecedência, só consegui comprar as duas últimas passagens do ônibus e no caso foram LITERALMENTE as últimas já que os assentos eram os de números 45 e 46. Isso mesmo, do lado do banheiro. Na hora nem levei muito a sério o risco de se sentar ali, porque a viagem seria de no máximo três ou quatro horas e a probabilidade que o banheiro fosse utilizado maciçamente nesse período de tempo era pequena. Certo? Acompanhem...
Nem bem os passageiros começaram a subir no ônibus, uma senhora muito debilitada foi atravessando o corredor e para meu desespero, ela entrou no banheiro. Em algumas situações de raiva/temor/desespero deve-se respirar fundo algumas vezes até que a sensação ruim passe. Nesse caso, não quis respirar fundo. Não seria inteligente de minha parte respirar fundo estando tão perto do banheiro.
Não sei ao certo quantas pessoas se utilizaram do banheiro enquanto o ônibus ainda não havia saído da rodoviária, mas sei que lancei a cada um desses indivíduos um olhar de clemência, quase que pedindo: “Por favor, se atenha ao número 1.”
Desolado, virei para o lado, liguei o iPOD e dormi.
Quando acordei estávamos parados na Dutra, um pouco antes de Volta Redonda. A Dutra estava muito movimentada e cheia de obras, o que fazia o ônibus andar em um ritmo bem mais lento que o normal. Meu sono estava voltando quando uma menina de uns doze ou treze anos se levantou e foi em direção ao banheiro. Quando ela saiu o ônibus foi tomado de um cheiro insuportável que nem vou perder tempo aqui descrevendo. Era estar ali para crer. A menina era podre por dentro. Só podia ser isso. Quase me levantei e perguntei se entre os passageiros havia algum médico que pudesse examinar aquela pobre alma. O mais estranho de tudo é que em pouco tempo dediquei à menina 2 sentimentos bem distintos:

1- Pena: -Coitada! Ter uma dor de barriga durante uma viagem de ônibus não é legal. O ônibus vai balançando e a pessoa lá dentro se equilibrando como pode. E depois, para piorar, sair do banheiro e encarar os demais passageiros é muito humilhante.
2- Ódio: -FDP! Se sabia que a coisa tava tão feia assim, por que não segurou mais um pouco? Banheiro em ônibus é só para uso rápido, nada de limpeza intestinal. Da próxima vez não coma ovo e repolho na véspera da viagem, ou então traga uma rolha!

Não quis nem saber, puxei minha camisa e fiquei respirando dentro dela. A essas horas, meu irmão já havia acordado e queria saber quem diabos tinha infestado o ônibus com aquele cheiro pavoroso. Indiquei a responsável e ficamos por uns cinco minutos atribuindo a ela diversos adjetivos. As frases mais legais que meu irmão mandou foram:

- Parece que fizeram e esfregaram na nossa cara.
- Fui abrir a boca e quase senti o gosto na ponta da língua.

Choro de rir (agora) ao lembrar disso.
A viagem correu nesse desespero até o final e nada amenizou o cheiro.
Aprendam com esse relato, viajar no final do ônibus é arriscado.

2 comentários:

Anônimo 24 de março de 2008 às 19:50  

hahahahahaahahahaha

muito bom!

Suzana 26 de março de 2008 às 10:02  

seeeempre com esses seus papinhos escatológicos, né, Daniel.
não sei como ainda te considero.

e os comentários do Lipe são os melhores! ele, sim, é meu amigo.